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O dilema de PMDB e PSDB

 

O PMDB está próximo de voltar à presidência da República pela terceira vez de maneira indireta. Foi assim com José Sarney e Itamar Franco, vice-presidentes que assumiram o governo na falta do presidente eleito, Sarney devido à morte de Tancredo Neves, e Itamar em decorrência do impeachment de Collor.

Nos dois casos, no entanto, a ligação dos vices com o partido era precária. Sarney saiu da Arena e filiou-se ao PMDB para poder concorrer na chapa com Tancredo, se transformando em um dos grandes caciques do partido, e Itamar, que tinha origem no velho MDB, filiou-se ao PRN para concorrer ao lado de Collor e voltou ao PMDB antes do impeachment. Terminou a vida no PTB, depois de ter passado pelo PPS.

Michel Temer é talvez quem melhor represente o PMDB dos tempos recentes, à falta de figuras marcantes no partido como Ulysses Guimarães e Tancredo.  A decisão do PMDB de não disputar várias eleições presidenciais nos últimos anos explicaria porque não tem uma imagem política nacional, embora domine a política regional, mantendo sua estrutura enraizada por todo o país.

Deixando, no entanto, que questões locais se sobrepusessem às nacionais, demonstrou uma vocação política restrita, aceitando o papel de coadjuvante de PT e PSDB, partidos que têm "vocação presidencial".

O cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getulio Vargas do Rio identifica em sistemas presidencialistas multipartidários como o nosso dois caminhos prioritários para os partidos políticos: o majoritário, que é o do PT e o do PSDB, por exemplo, e o do legislador mediano, que é o do PMDB.

Partidos podem preferir seguir o caminho majoritário, lançando candidatos críveis e competitivos para a presidência da República, analisa Pereira. “Se vitorioso nas eleições, esse partido obteria os maiores benefícios, uma vez que o presidente da República é muito poderoso e dispõe de uma série de recursos de poder e orçamentários sob sua discricionariedade”.

Entretanto, essa escolha, não seria destituída de custos, adverte, pois esse partido necessariamente seria, por exemplo, o responsável de potenciais erros na gestão do governo. “Mas o saldo dessa escolha seria positivo”, avalia o cientista político. Entretanto, se souber resistir o bastante à tentação de sair da rota majoritária e aguentar o tranco de ser oposição, esse partido pode vir a se tornar o majoritário vitorioso no futuro próximo, como aconteceu com o PT.

Essa seria, portanto, a esperança e o que nutriria o partido a continuar nessa trajetória, mesmo sendo o perdedor. O caminho alternativo ao majoritário seria o do legislador mediano, quando o partido não disputaria a presidência com candidato próprio e preferiria apoiar, na condição de partido essencial (pivotal) na coalizão de governo, o partido que saiu vitorioso na trajetória majoritária.

Essa estratégia não geraria os altos retornos da trajetória majoritária vencedora, mas também não proporcionaria os riscos de ser o majoritário perdedor. “Ou seja, geraria um retorno intermediário, que teria condições de proporcionar sobrevivência política de seus membros no longo prazo numa espécie de “zona de conforto”, avalia Pereira, uma situação que acontece com o PMDB. 

Enquanto o PMDB tem enfrentado o dilema de mudar da trajetória do legislador mediano para o majoritário com o impeachment, o PSDB tem justamente enfrentado o dilema inverso, com a possibilidade real do Temer de se tornar o próximo presidente. Ou seja, o de se tornar o legislador mediano do governo Temer. Ou, como define Carlos Pereira, ser o “PMDB do PMDB”.

O receio do PSDB de virar o partido essencial (pivotal)  do governo Michel Temer, diz ele,  é o de como construir uma narrativa de oposição a esse governo no futuro próximo (2018), tanto se o governo Temer for virtuoso ou fracassar. 

A escolha/dilema que hoje se abre para o PSDB é, portanto, entre maximizar sua trajetória majoritária perdedora, e não participar do governo Temer na expectativa de ser vitorioso em 2018, versus ofertar seus melhores quadros e dar qualidade política ao governo Temer, se tornando o partido essencial (pivotal) da coalizão do próximo governo, na condição de legislador mediano.

Uma alternância de papéis que pode ser momentânea, se o PMDB continuar sendo vítima de sua própria trajetória política, sem condições de governar, mas sendo imprescindível a qualquer governo. Ou definitiva, se o PMDB, no caso de o provável governo Temer der certo, assumir o papel de líder de uma posição de centro-direita que ainda tem no PSDB hoje seu principal representante.
 

O Globo, 26/04/2016