A vida de Cícero Sandroni apresenta coincidências inspiradas em Machado de Assis. Jornalista, imortal e no ano que o Brasil presta homenagem ao centenário de morte do escritor, preside a Casa do homenageado.
Aberto ao mundo, mas sem esquecer do seu chão assim como a literatura machadiana, o acadêmico expõe o lado de correspondente internacional no texto da mostra Machado Vive!.
Casado com Laura Sandroni e pai de cinco filhos, Cícero Sandroni foi eleito Presidente da Academia Brasileira de Letras por unanimidade de votos dos 31 confrades presentes na ocasião.
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Machado Vive
A Academia Brasileira de Letras é, antes de tudo, a casa da memória. Apesar do prestígio que alcançou – fato único para uma instituição cultural – na sociedade brasileira, apesar da maciça programação de conferências, cursos, publicações, concertos, artes cênicas, que oferece ao público em todas as áreas do conhecimento e da sensibilidade, a sua maior missão e característica é a preservação da memória intelectual brasileira, sem a qual ela não seria a dispensadora daquela “glória que fica, eleva, honra e consola” de que falava Machado de Assis, em texto célebre.
O presente ano, tão rico em efemérides, tem para esta casa a importância única de ser o do centenário da morte do seu patrono e um de seus fundadores, Joaquim Maria Machado de Assis. A Academia Brasileira de Letras é, por antonomásia, a Casa de Machado de Assis, como a Academia Francesa é a Casa de Richelieu, e, sob este aspecto, ela nasceu sob um signo mais exclusivamente literário do que aquela na qual se espelhou.
Em pouco mais de um ano, de junho de 1908 a agosto de 1909, ocorreram três datas máximas na história da prosa no Brasil, uma de júbilo e as outras duas lutuosas, que são respectivamente o nascimento de João Guimarães Rosa, o falecimento de Machado de Assis e a morte trágica e precoce de Euclides da Cunha. Entre as duas outras se situa a despedida do grande mestre do Cosme Velho, deixando-nos uma obra vasta e magistral, marca de uma existência plenamente cumprida, para além de todas as dificuldades, uma existência que significa a vitória do gênio e do esforço humanos, grande exemplo moral que nos legou, juntamente com a obra, o maior escritor brasileiro de seu século.
A presente exposição, Machado Vive, relembra a sua morte, mas, muito mais do que isto, comemora a sua vida, seguindo-a desde as remotas origens cuja memória nos chegou até a sua desaparição e consagração póstuma perene. Com a curadoria de Alexei Bueno, grande conhecedor da literatura brasileira, nela o público encontrará uma exaustiva iconografia do autor de Memórias póstumas de Brás Cubas, sua extensa bibliografia publicada em vida virtualmente completa, objetos que lhe pertenceram, relíquias da sua ambiência de criação e de trabalho, imagens do Rio de Janeiro pelo qual se movem quase todos os seus personagens, e no qual hoje nos movemos nós, eternamente ligados ao maior artista literário que ela deu para o Brasil e o mundo.
Cícero Sandroni
Presidente da Academia Brasileira de Letras
26/6/2008
26/06/2008 - Atualizada em 25/06/2008