Com o desfile das campeãs realizado ontem, fica encerrado o Carnaval deste ano, festa de rotina que antecedeu duas festas também de rotina, mas espaçadas no tempo e nas intenções: a Copa do Mundo e as eleições.
Tirante a Copa, que me interessa como espetáculo e pode até me emocionar, tanto o Carnaval que já foi como as eleições que virão são como o Dia de Finados, o dia do postalista (nada tenho contra os postalistas e ao dia dedicado a eles), o dia da sogra e outros dias equivalentes e afins.
A Copa está dando a impressão que já é nossa -e isso é um pouco inquietante. O ovo só é nosso quando sai da galinha. Quanto às eleições, desde que não seja eu o eleito para qualquer coisa ou função, não me interessam e muito menos me comovem.
O Carnaval sim, me fez pensar um pouco na mudança de critérios da mídia. A cobertura foi maciça, colorida, berrante como o próprio Carnaval. Houve tempo em que o chamado "tríduo momesco" merecia dos jornais um noticiário magro, reduzido ao desfile das "grandes sociedades" (substituídas pelas escolas de samba) e aos crimes de várias feitios que eram praticados. Consta entre os entendidos que no Carnaval de 1919, logo depois da gripe espanhola que matou quase metade da cidade, houve 1.653 queixas policiais de defloramentos. Segundo Mário Filho, irmão do Nelson Rodrigues, nunca houve Carnaval tão libertino e bestial como aquele.
Durante anos, trabalhei e editei revistas que cobriam o Carnaval com entusiasmo e, aqui entre nós, com alguma competência. O meu amigo Alfredo Machado, editor da Record, costumava dizer que o melhor Carnaval do mundo não era o do Rio, mas o da "Manchete" e o da "Fatos & Fotos".
Chegamos a inventar um bando de mulheres paulistas que vinham se esbaldar no Copa que não eram paulistas nem se esbaldavam. Eram modelos que contratávamos em Las Vegas e Paris para enfeitar, apenas isso, a nossa festa. Era realmente uma festa.
PS: Estarei um mês fora.
Folha de São Paulo (São Paulo) 05/03/2006
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