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Solução radical

 

Vamos e venhamos, foi uma temporada divertida, essa que passou, das opiniões sobre o referendo do último domingo. Besteiras de um lado e de outro foram proclamadas, mas nenhuma delas se equiparou a das feministas que aproveitaram a onda para tirar as casquinhas de sempre.


Como reduzem qualquer problema ao machismo, vieram com um espantoso argumento, o qual, honestamente, eu não chegara a levar em consideração. O homem, qualquer homem, já vem armado pela natureza. Não precisa ir à loja especializada, legal ou ilegal, ou apelar para o contrabando a fim de se apoderar da perigosa arma, a mais letal de todas: o falo.


Em nome dele, ou melhor, na posse dele, todas as atrocidades são cometidas, não apenas contra a mulher, vítima mais disponível para qualquer tipo de violência, mas contra a humanidade em geral, uma vez que os homens, confiados em seu poderoso armamento, brigam entre si para conquistar a hegemonia do poder e da força.


Sinceramente, esse argumento para mim foi pasmoso e me pareceu a única novidade da campanha contra a fabricação e o comércio das armas. Não me lembrei que já nasci portando uma arma da qual, por má informação, passei a vida fazendo outros usos. Estava enganado. Sou, potencialmente, um criminoso, e vai ver que sou mesmo.


Daí que julgo necessário um novo e urgente referendo sobre o porte e o uso do falo. Como se trata de arma fora do mercado específico, a pergunta óbvia seria radical -e bota radical nisso: é justo que os homens já venham armados para submeterem as mulheres à violência e aos caprichos de seus instintos animais?


A resposta a tão palpitante questão não poderia ser paliativa, na base de dotar as mulheres de arma igual ou equivalente. A alternativa seria desarmar os homens, todos os homens, sem exceção, cortando o mal pela raiz. Daí que a solução teria de ser mesmo radical.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 26/10/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 26/10/2005