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ABL na mídia - Revista Marie Claire Globo - O 2025 de Ana Maria Gonçalves: do resgate da memória preta à eleição para a Academia Brasileira de Letras

 

Ana Maria Gonçalves atravessou um dos anos mais marcantes de sua trajetória, não apenas como escritora, mas como figura central na reconfiguração do imaginário literário e político do país. A eleição para a Academia Brasileira de Letras, com 30 dos 31 votos possíveis, foi o acontecimento que reverberou de forma mais ampla. Mas, para ela, ocupar a cadeira 33 nunca foi sobre medalhas individuais: “Quase nunca é um projeto pessoal, é um projeto coletivo de militância, de entendimento do que é a narrativa preta na história do Brasil”. Tornou-se, assim, a primeira mulher negra a integrar a instituição em 128 anos – e também a mais jovem entre os atuais imortais. Com naturalidade, assumiu a responsabilidade simbólica do feito: “Que eu seja a primeira, mas não a única, estou cansada disso”.

Essa conquista dialoga com o caminho que Ana vinha desenhando, afirmando que a discussão sobre representatividade já não basta. “Precisamos trabalhar a presença. Esses lugares nós precisamos começar a cobrar”, disse, durante o Power Trip Summit 2025 de Marie Claire.

Enquanto a vitória na ABL mobiliza públicos diversos, Ana alimenta outra frente importante: uma rede de criação e formação independente das instituições tradicionais. A Terreiro Produções, concebida como incubadora de textos para teatro e literatura, e o Instituto Terreiro, em fase de consultoria, ganharam ritmo em 2025. Algumas das iniciativas ampliam o acesso e defendem processos antirracistas nas escolas e também propõem democratizar o uso de imagens que documentam a época dos escravos e escravas. “Tem gente e institutos que lucram com a escravidão até hoje e essas imagens deveriam ser de domínio público. Essa é outra de minhas missões”, afirmou.

A relação de Ana com o público também ganhou novas camadas. A potência de Um Defeito de Cor (2006), eleito melhor livro de literatura brasileira do século 21 pelo júri da Folha, segue produzindo ecos necessários. Ela ainda recorda, com surpresa, o impacto de ver seu rosto estampado em camisetas no Rio de Janeiro após sua obra ser enredo da Portela em 2024. “Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida”, contou. Esse trânsito entre literatura, cultura popular e memória coletiva reapareceu com força ao longo do ano, reafirmando a dimensão pedagógica das artes que a própria autora sempre sublinhou: “Aprendemos muito sobre a história do nosso povo quando lemos letras de samba, do Olodum, dos ilês”.

"A literatura me ensinou a imaginar novas possibilidades de futuro" - Ana Maria Gonçalves

Para Marie Claire, revisitou sua própria formação como forma de apontar para o futuro. “Sou uma das poucas mulheres negras a publicar um romance no Brasil, e isso precisa mudar. A literatura me ensinou a imaginar novas possibilidades de futuro.”

O movimento que Ana Maria Gonçalves protagoniza não se encerra em títulos ou homenagens, se espalha no modo como sua obra continua ativando debates, estimulando políticas de memória e abrindo frestas para que outras vozes ocupem espaços antes inacessíveis. Há muito feito, mas ainda mais sendo construído.

Matéria na íntegra: https://revistamarieclaire.globo.com/cultura/noticia/2025/12/o-2025-de-ana-maria-goncalves-do-resgate-da-memoria-preta-a-eleicao-para-a-academia-brasileira-de-letras.ghtml

04/12/2025