A Academia Brasileira de Letras realizou no dia 2 de março, às 16h15, a Sessão da Saudade da Acadêmica e professora Cleonice Berardinelli. A Acadêmica faleceu, aos 106 anos, no dia 31 de janeiro, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, vítima de insuficiência respiratória.
Cleonice foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 2009, sucedendo Antônio Olinto, e era considerada uma das maiores especialistas mundiais em literatura portuguesa, sobretudo na obra de Fernando Pessoa. Foi a sexta ocupante da Cadeira nº 8 e a Acadêmica mais longeva da Instituição.
Era licenciada em Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1938), doutora em Letras Clássicas e Vernáculas pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1959) e livre-docente de Literatura Portuguesa por concurso pela Faculdade Nacional de Filosofia (1959). Foi professora emérita da UFRJ e da PUC- Rio e também deu aulas na Universidade Católica de Petrópolis, no Instituto Rio Branco nas Universidades da Califórnia, campus Santa Barbara (1985) e de Lisboa (1987 e 1989).
Ao fim da sessão, o Presidente da ABL, Acadêmico Merval Pereira, declarou aberta a vaga da Cadeira nº 8. Os interessados em se candidatar à sucessão da Cadeira nº 8 disporão de 15 dias para fazer suas inscrições. Findo esse prazo, o Presidente marcará a eleição para 30 dias depois.
A ACADÊMICA
Cleonice Serôa da Motta Berardinelli nasceu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1916, filha de Emídio Serôa da Motta e Rosina Coutinho Serôa da Motta. Como seu pai era oficial do Exército, morou em numerosas cidades do Brasil, devido às sucessivas transferências paternas, tendo residido por mais tempo no Rio e em São Paulo.
No Rio fez, no Instituto Nacional de Música, os cursos teóricos, nos quais se diplomou, sob a orientação do Maestro Oscar Lorenzo Fernandez, também seu professor de piano. Em São Paulo concluiu o curso secundário e seguiu, na USP, o curso de Letras Neolatinas. Teve como professor de Literatura Portuguesa o eminente mestre Fidelino de Figueiredo, que, ao fim do ano, a convidou para ser sua assistente. Contudo, uma nova transferência de seu pai, desta vez para o Rio, a levou a conhecer o então professor da mesma disciplina na Universidade do Brasil, Thiers Martins Moreira, que lhe fez o mesmo convite, definindo, então, o seu caminho.
No Brasil e no Exterior, proferiu diversas conferências e comunicações em mesas-redondas. Recebeu, ao longo de sua trajetória, diversas distinções e homenagens, como “Cleonice Clara em sua geração”, livro de homenagem organizado por professores de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que contém ensaios de especialistas brasileiros e estrangeiros.
É autora de obras como "Antologia do Teatro de Gil Vicente" (1971), "Fernando Pessoa. Obras em prosa" (1975) e "Sonetos de Camões" (1980). A Acadêmica foi homenageada no cinema em documentários como "O vento lá fora", em que ela e Maria Bethânia leem Fernando Pessoa diante de uma plateia de convidados, e "Cleo", em que apresenta poemas recitados de cor. Em 2014, com 98 anos, recebeu o Prêmio Faz Diferença na categoria Prosa das mãos dos Acadêmicos Zuenir Ventura e do atual presidente da ABL, Merval Pereira.
27/02/2023