Daniela Birman
O Globo (24.04.2003)
A escritora carioca Ana Maria Machado é a mais nova imortal da Academia Brasileira de Letras. Ela foi eleita ontem para a cadeira de número 1, que pertenceu ao jurista Evandro Lins e Silva, morto em dezembro. A vitória, em segundo escrutínio, foi histórica. Ana Maria é a primeira autora identificada, principalmente, com a literatura para crianças e jovens a entrar para a Casa de Machado de Assis. Além disso, também foi a primeira vez que a escolha do imortal oscilou entre duas mulheres, pois sua mais forte concorrente foi a arqueóloga Maria Beltrão, que empatou com Ana Maria no primeiro escrutínio, no qual ambas obtiveram 16 votos. O jurista Fábio Konder Comparato recebeu cinco votos nos dois escrutínios. Outros nove candidatos também disputaram a cadeira.
O presidente da Academia, Alberto da Costa e Silva, lembrou a derrota de Monteiro Lobato, que não conseguiu se eleger no início dos anos 40. Segundo ele, Ana Maria vingou o criador de Jeca Tatu.
- Estamos muito felizes em ter conosco Ana Maria Machado. Trata-se de uma grande escritora - disse Costa e Silva.
A autora considera sua eleição uma vitória da literatura infantil brasileira. Ela contou que soube da notícia quando passava pela Praça Mario Martins, que presta homenagem a seu pai, que foi jornalista e político.
- Foi uma bonita coincidência - disse Ana Maria, que, na hora, sentiu uma dupla emoção e afirmou ser muita grata a duas escritoras: - Uma é Ruth Rocha, que é minha amiga fraterna e foi a grande incentivadora da minha candidatura. E outra é Rachel de Queiroz, que foi a primeira mulher a entrar para a Academia e, portanto, abriu caminho para mim.
Ana Maria tem mais de cem livros publicados em 33 anos de carreira. Ganhou em 2000 o Hans Christian Andersen (Nobel da literatura infantil) e, em 2001, o Machado de Assis, da ABL. Ela também lembrou que, ao ser premiada com o Casa de Las Americas, em 1981, com um livro para criança que concorria com um para adultos, aprendeu que a literatura infantil nunca deve se encolher. Agora, neste período de Bienal do Livro (de 15 e 25 de maio), a autora está lançando dois inéditos: "Abrindo caminho" e "Portinholas".
Ana Maria era muito amiga do jurista Evandro Lins e Silva. Uma irmã da escritora casou-se com um filho do jurista, grande amigo de seu pai desde a juventude:
- O Evandro foi um grande brasileiro. Uma pessoa com um sentido de justiça modelar, exemplar para todos nós, que me influenciou muito.
05/06/2006 - Atualizada em 04/06/2006