No dia 12 de agosto foi publicado no jornal Diário de Pernembuco um texto homanageando o presidente da ABL, Marcos Vinícios Vilaça.
Vilaça é Pernambuco no vértice da ABL
Roberto Pereira
EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DE PERNAMBUCO
Indo ao Rio de Janeiro, na minha longa trajetória de gestor público da cultura em meu estado, algumas visitas eram comuns à minha sempre extensa agenda de trabalho: uma à Associação Brasileira de Imprensa (ABI), visitar o presidente Barbosa Lima Sobrinho, inexcedível no seu saber aprimorado e na defesa inarredável do ideário democrático, além dos demais órgãos a exemplo da Funarte, do INM, do INACEN, da Fundação Roberto Marinho etc. Outra, à Academia Brasileira de Letras onde se respira o ar da inteligência e da imortalidade dos que se entregam à defesa do nosso idioma pátrio e à produção literária.
Visitar o presidente da ABL, o jornalista e escritor, orador de estilo arrebatado, Austregésilo de Athayde, era um dos meus lenitivos. Na ABL tive a honra de, representando meu pai escritor, Nilo Pereira, proferir, no salão nobre daquele sodalício, o discurso que ele produziu ao receber o prêmio Machado de Assis, o maior laurel daquela Casa. Lá também coordenei um curso sobre Gilberto Freyre, patrocinado pela Gerdau, com numerosa presença dos universitários, anteriormente visitados por mim.
De Austregésilo guardo duas passagens, dentre outras: uma, a recordação que fazia quando, por ocasião da Declaração Universal dos Direitos do Homem, quando ele discursara no Palais Chaillot, em Paris, ao final de 1948, diante de uma excelsa platéia.
Nem por isso sua mãe entendeu fosse isto a glória máxima que discursar na tribuna, por ela considerada imbatível, do Teatro de Santa Isabel. Anos depois, na companhia de Gladstone Vieira Bello, tive a oportunidade de proporcionar-lhe o púlpito daquele que era considerado o foyer da cultura pernambucana, sendo que, da última vez, ele, apoteoticamente, discursou de um dos camarotes daquele Teatro.
A outra, mais pessoal e mais sentimental, quando, ao lhe oferecer um jantar aqui no Recife, qual surpreso, ele entregara a Elaine, minha esposa, o primeiro presente que dera à sua noiva, depois esposa, à época já falecida: um anel que guardamos como símbolo de uma amizade de muita pureza, terna e eterna em nossos corações.
Em dezembro do ano passado, para gáudio dos pernambucanos, o escritor e ensaísta Marcos Vilaça assume, pernambucana e brasileiramente, a presidência da maior corte literária do país, e o faz levando consigo o espírito da pernambucanidade.
Não me reporto ao prestígio de sua posse, nem a beleza plástica do seu discurso. Desejo, sim, referir-me a um traço comum aos cargos que ele vem assumindo e se desincumbindo com o respeito e a admiração de todos os Brasis deste Brasil: a sua obstinada pernambucanidade.
Na sua imensa fortuna crítica está a inigualável Rachel de Queiroz, de quem também me tornei amigo, quando dele disse: "é o danado de um pernambucano com todas as notórias qualidades do pernambucanismo".
Ou de outra imortal, igualmente reverenciada, Nélida Piñon, a quem conheci aqui no Recife: "Marcos Vilaça, intelectual de estirpe, observa o Brasil com mirada que lhe foi emprestada, desde o berço, pela tradição nordestina. Para ele, Pernambuco e Brasil são entidades tão indissolúveis que, ao examinar a densidade sociológica ou histórica do seu estado, sob que ótica seja, guarda o sestro de ampliar suas reflexões a fim de abarcar com elas o país como um todo".
Quando presidi a Fundarpe, o hoje ministro Marcos Vilaça, era secretário de Cultura do Ministério da Educação e Cultura, quando muito ajudou aquela Fundação, a empreender o maior número de restauração de monumentos já acontecidos.
Por igual, o vasto projeto editorial, uma média de 1 livro/semana, graças às reedições, mas, também, abrindo espaço às novas publicações e às novas gerações de escritores. Tão grande e tão eloqüente que lançamos todos os livros com extremado êxito, no Rio de Janeiro. Daí, ao instituir o Programa Cultura Viva de Pernambuco, fiz questão de começá-lo bem: começamos por Marcos Vilaça, sob os aplausos de Pernambuco por inteiro.
Aplausos que ainda hoje ecoam em meu espírito. O ministro Marcos Vilaça, inadulável, pode mudar a geopolítica do Recife que precisa escapar à pecha de capital brasileira da inveja. Homenagear aos vivos pelo patriotismo de viverem para a Pátria deveria ser um dever cívico e cultural de todos quantos zelam por seus valores maiores.
Traduzido em vários idiomas, respeitado no Brasil e em diversos países, mas homem do seu canto, do amor fiel à esposa, Maria do Carmo, e à sua constelação familiar, onde, recentemente, sofreu revezes inimagináveis, mas, mesmo emocionado, resistiu, heróica e bravamente, aceitando, com destemor, os desígnios de Deus, tornando-se um cavalheiro da fé, apóstolo do bem, para quem "até morrer, tudo é vida", como dissera Quixote.