Gisela Alvares
Com a proximidade das eleições municipais as atenções se voltam para a disputa eleitoral que será travada ano que vem. Tema que costuma estar presente nas campanhas dos candidatos a cargos eletivos, a educação é uma grande preocupação dos profissionais que atuam nesta área. Presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio de Janeiro (CIEE/RJ) - instituição filantrópica mantida pelo empresariado nacional , o membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Arnaldo Niskier espera que o próximo prefeito da capital caminhe ao lado do governo do Estado para enfrentar os desafios que têm de ser vencidos para o desenvolvimento econômico e social fluminense.
"É preciso um grande e permanente entrosamento entre Prefeitura e Governo do Estado. Há um certo cansaço desse mal relacionamento que, em última instância, prejudica a população. Há tantos e tão extraordinários desafios para o desenvolvimento econômico e social do Rio de Janeiro, que não se pode desprezar essa junção, que só fortalecerá o poder junto ao governo central. Afinal, temos que tirar recursos de onde existem. E essa associação é uma conjunção favorável de lideranças. O prefeito, o governador e o presidente da República afinados vão significar a consolidação do Rio de Janeiro como segundo pólo econômico do País", disse.
Na avaliação do presidente do CIEE/RJ, entidade que já treinou no Brasil mais de 7 milhões de jovens, a capacitação profissional deve vir acompanhada de incentivos salariais, como ocorre nos países pós-industrializados. Ele observa que quase 30% da população entre 18 e 25 anos não têm oito anos de estudos. "Devemos treinar esses jovens antes que se tornem adultos incompetentes ou pouco instruídos. Com melhor e mais moderna educação, será possível atender de forma competente e inovadora às demandas existentes no mercado".
Ele destaca ainda a grande carência de profissionais especializados em metalurgia, siderurgia, mineração, informática, agricultura, além de especialização em engenharias do meio ambiente, civil, mecãnica e de produção. Segundo ele, o Rio de Janeiro corre sério risco "de sacrificar os anseios de progresso imediato" pela falta de pessoal qualificado de níveis técnico e superior. O educador aponta para a necessidade de ampliar significativamente os programas de estágio, "que se revelaram eficientes e eficazes". Comércio, serviços, indústria e construção, diz, pedem, estrategicamente, os maiores e melhores profissionais. "O Brasil forma poucos engenheiros, técnicos e cientistas", pondera.
Para ilustrar a importância da capacitação, ele apresenta os resultados obtidos com o trabalho do CIEE/RJ: em 43 anos de existência, 500 mil estudantes foram atendidos só no Rio de Janeiro, onde hoje fazem estágio cerca de 23 mil estudantes; o aumento em 2007 foi de 20%, estimando-se para 2008 incremento de 30%; cerca de 217 mil bolsas foram pagas, em valores variáveis que chegam a atingir quase R$ 700 por mês no ensino superior. "Esses estágios estimulam a cultura do empreendedorismo", destaca.
Ele prevê que a demanda por mão-de-obra qualificada no Rio deverá fazer com que o próximo "prefeito ou prefeita" da capital enxergue a necessidade de abastecer o mercado com pessoal treinado. Neste sentido, insiste, o caminho é a "conjunção" entre as três esferas de poder.
"O entrosamento precisa ser aperfeiçoado. O Rio ainda é a capital cultural do País, mas, se pensarmos nos recursos aplicados em cultura no Rio, há um certo desânimo, porque a presença da cultura nos orçamentos, de menos de 1%, é ridícula", critica Niskier, ex-secretário estadual de Cultura (2004 e 2005) e de Educação (2006).
"Se tivermos outros Cristóvam Buarque (senador, que disputou a Presidência da República obtendo 3 milhões de votos com o discurso centrado na Educação) a gente acaba mudando a face do País, porque a educação é a grande prioridade nacional", finaliza.
Jornal do Commercio (RJ) 17/12/2007
01/01/2008 - Atualizada em 01/01/2008