Sobre a afirmativa de que Machado de Assis nasceu nessa casa, a Presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, afirmou hoje que “consultados especialistas no patrimônio histórico da cidade, recebemos um parecer escrito, informando que não há qualquer elemento que autorize essa hipótese, embora a casa em questão deva ser da mesma época e provavelmente fazia parte do conjunto de construções da mesma chácara”.
Com isso, a acadêmica esclarece dúvidas surgidas recentemente na imprensa a respeito da casa que tem sido apresentada como aquela onde nasceu Machado de Assis.
“Não conhecemos qualquer base documental – diz ela – que comprove a hipótese. Trata-se, de toda maneira, de imóvel de inegável valor histórico-arquitetônico, digno de preservação e de restauração que a liberte de algumas adulterações que sofreu, mas, até onde sabemos, a afirmação de ser ela a casa natal de Machado não tem qualquer base documental, salvo o pouco provável aparecimento de alguma fonte até agora desconhecida”.
INTERESSE DA ABL
Ana Maria Machado historia:
- É bom deixar claro que a ABL se associa sempre a qualquer homenagem a Machado de Assis em qualquer lugar — ainda mais no morro onde ele nasceu e passou sua infância. Ele é o maior escritor brasileiro, nosso fundador, nosso primeiro presidente, admirável, merece todos os tributos. O que ocorreu é que, quando fomos inicialmente procurados (ainda no ano passado, por meio de uma consulta de um jornalista) com uma sondagem a respeito dessa casa onde Machado teria nascido, pedimos tempo para averiguar, pois sempre ouvíramos dizer que a casa não existia mais. Pedimos então aos responsáveis por nosso arquivo e documentação que verificassem a informação. Consultados especialistas no patrimônio histórico da cidade, recebemos um parecer escrito, informando que não há qualquer elemento que autorize essa hipótese, embora a casa em questão deva ser da mesma época e provavelmente fazia parte do conjunto de construções da mesma chácara. Foi essa a informação que repassamos, então, ao jornalista. - Este ano, novamente outro profissional da imprensa nos procurou sobre o assunto. Repetimos exatamente a única coisa que tínhamos a respeito: o mesmo parecer escrito. Ele então nos disse que o historiador Milton Teixeira asseverava que a casa era essa. Animados com a novidade e muito interessados em saber o que poderia levá-lo a dar essa garantia com tanta certeza, o convidamos para vir até a ABL conversar conosco e expor aos acadêmicos os seus elementos de convencimento. Para nós, o critério de reconhecimento seria qualquer documento histórico que indicasse essa evidência com razoável chance de credibilidade.
Prossegue a Presidente da ABL:
- Em resposta, fomos surpreendidos com uma entrevista de Milton Teixeira que incluía declarações atribuídas ao historiador, desrespeitosas para com a Academia e os acadêmicos. Diante disso, nem chegamos a marcar a data de sua eventual visita à ABL. Continuamos sem saber de que evidências históricas ele dispõe. Mas continuamos dispostos a participar da homenagem a Machado de Assis. O que não podemos é exorbitar de nosso papel e legitimar uma hipótese, sem base para isso. Não temos em nossos arquivos nada que autorize essa ilação. Não nos cabe usurpar o papel de historiadores e dar nosso aval a algo que pode ser verdade, mas pode igualmente ser apenas uma lenda, sem que tenhamos elementos comprobatórios respeitáveis e convincentes.
De qualquer modo, parece-nos que é uma boa ideia o tombamento da casa proposto pela vereadora, e sua transformação num centro cultural em homenagem a Machado de Assis. Só não podemos é assumir a responsabilidade de dizer que o escritor nasceu lá ou morou lá, enquanto não tivermos alguma prova ou uma soma de indícios fortes que levem a certeza de que isso é verdade. Isso não cabe à Academia Brasileira de Letras, mas aos historiadores.
E concluiu:
Tomara que eles possam provar.
De qualquer modo, que seja preservado. Já se derrubou o chalé no Cosme Velho onde Machado morou com Carolina, e isso foi um erro irreparável. Que ao menos agora se salve essa casa — quer ele tenha morado nela, ou apenas brincado nas redondezas quando era criança.
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13/3/2013
13/03/2013 - Atualizada em 12/03/2013