Ruy Castro foi o primeiro Acadêmico a falar na FLIP. Em uma hora de bate-papo na Casa Folha com o jornalista Mauricio Meirelles, falou sobre João do Rio, sobre jornalismo, sobre como escrever uma crônica e contou um pouco de seu dia a dia de colunista de jornal. Numa palestra com plateia majoritariamente paulista, defendeu o Rio quando o assunto foi a semana moderna de 22 e ao responder a uma pergunta sobre o motivo de o Rio ter “acabado”, quando lembrou que maior facção de criminosos da cidade vem de São Paulo, o PCC.
“O Rio não precisava de ter um movimento para modernizá-lo, já era moderno. Do século XIX em diante, tudo de importante acontecia no Rio, em larga escala. Em 1920, uma geração de grandes brasileiros vindos de todas as partes do Brasil e fazendo coisas extraordinárias, todos morando na mesma cidade e na mesma época. Villa Lobos, Manuel Bandeira, João do Rio, J. Carlos, Sinhô... Eram umas 30 pessoas fazendo coisas extraordinárias no mesmo e lugar e ao mesmo tempo. Como uma cidade assim poderia não ser moderna?
Para ele, João do Rio foi um dos mais fantásticos intelectuais brasileiros, e nenhum exerceu tantas funções como ele. “Foi repórter, o primeiro entrevistador do Brasil, articulista, cronista, crítico e autor de teatro, editor e dono de jornal, correspondente estrangeiro, colunista político, cronista de viagens, passou por tudo em jornal além da crônica.”
Segundo Ruy Castro, Paulo Barreto teve mais de 10 pseudônimos e a metade de suas crônicas foram publicadas assim. “João do Rio foi o que deu mais certo”, disse.
Foi também o primeiro colunista social do Brasil, além de autor de teatro, de romances, contos, nunca escreveu nada em casa, trabalhava só na redação do jornal. Toda a obra saiu primeiro no jornal, inclusive os romances, em folhetins. Sempre foi um homem de jornal. Era negro, gay e gordo, mas nunca pregou nada sobre isso – nem sexual, nem moral. Era um dândi nas ruas, um Oscar Wilde – obra de quem, aliás, traduziu quase toda. Chegou à ABL, que é uma instituição conservadora. Atraia multidões nas ruas do Rio para beijar sua mão. Era um respeito que merecia mesmo.
Morreu em 1821, e foi rapidamente esquecido, por várias razões. Primeiro, porque era grande defensor dos portugueses e havia um sentimento antilusitano por causa do centenário da independência. Depois, como toda a geração dele, foi condenado ao silêncio pelo pessoal da semana moderna de 22. Em 1930, veio a geração de escritores nordestinos – Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos e outros, que sepultaram os dos anos 20 e os modernistas. Ele, então, foi vítima de duplo sepultamento. Continuou a ser cultuado por uma minoria intelectual no Rio, mas nunca deixou de ser reeditado.
Sobre crônica Ruy disse que é um gênero que se escreve com os pés e não com as mãos. "Você tem que andar pela rua observando coisas significantes e fazendo comentários sobre elas. Por isso, o Rio é uma cidade mais propícia a crônicas; é uma cidade aberta para andar a pé; a crônica não deveria ser coisa de gabinete, se não passa a ser coluna de opinião. Existe esta diferença e eu faço as duas coisas. quando dou opinião sobre coisa que não é importante é crônica, quando a coisa é importante é coluna de opinião. Esta coluna de opinião pode ser feita em casa, mas a crônica de verdade tem que ser sobre algo que você observou ou ficou sabendo sobre o que se passa na rua."
10/10/2024