Quando Teresa Costa D’Amaral começa sua defesa pela inclusão social das pessoas com deficiência, os corações dos ouvintes batem mais forte. E se ela tem a seu lado Lia Crespo, jornalista, doutora em História Social, militante e cadeirante (vítima de paralisia infantil), a emoção alcança não somente os corações, mas também as mentes de quem as ouve. Foi exatamente assim no Seminário "Brasil, brasis" da ABL, que debateu o tema “Cidadania e pessoas com deficiência”, quinta-feira, dia 15 de agosto, no Teatro R. Magalhães Jr., sob coordenação do Primeiro-Secretário da Academia, Acadêmico Domício Proença Filho.
Teresa Costa D’Amaral foi uma das autoras da Lei nº 7853, de 1989, que assegura a integração social dos deficientes. Nove anos depois, em 1998, criou o Instituto Brasileiro dos Direitos das Pessoas com Deficiência (ABDD), a maneira que encontrou para estar no front de batalha para que a legislação se tornasse cada vez mais inclusiva “e para que os direitos não sejam encarados como esmola”. Em defesa da adoção verdadeira da lei, ela afirma: “É considerada a mais inclusiva das Américas e, ao mesmo tempo, a menos executada”. Segundo afirma, o paradoxo está exatamente aí, no fato de que o legislativo, embora faça as lei, “os executivos, seja a União, os Estados ou os Municípios, não as cumprem. Ou cumprem apenas em parte”.
A palestrante, filha do Acadêmico e jornalista Odylo Costa, filho, falecido em 1979, lembra que a sociedade brasileira obteve avanços nas últimas décadas, mas precisa aprender a olhar para o outro, sem qualquer preconceito: “Trabalho com deficientes há mais de 40 anos e, até hoje, não deixo de me emocionar quando empurro uma cadeira de rodas ou quando ajudo alguém cego a atravessar a rua, sinto-me mais perto do outro e a humanidade parece fazer sentido. Os que nos ouvem não podem deixar de se encantar. O momento é o de sair da omissão, para chegarmos a uma sociedade mais justa com todos, especialmente as pessoas com deficiência”, concluiu Teresa Costa D’Amaral, depois de apresentar um vídeo mostrando as dificuldades que os deficientes enfrentam por melhores condições de saúde, educação, emprego e locomoção.
A jornalista e militante Lia Crespo não fez por menos. Concordou em parte com a fala de Teresa Costa D’Amaral, mas afirmou ter uma outra visão: “Temos que ver o centro nervoso do problema. O olhar das pessoas para os deficientes é por si só preconceituoso. Assim como o olhar do deficiente, que se sente preso ao paternalismo. Na verdade, o deficiente não precisa ser ‘consertado’ para participar da sociedade. A sociedade é que tem que compreender que o deficiente também é uma pessoa”, garantiu.
Lia Crespo mostrou, ainda, um vídeo explicativo sobre seu modo de ver a dificuldade do deficiente. Ela mesma, vítima de paralisia infantil, cadeirante, lutou contra todas as dificuldades e se tornou jornalista e doutora em História Social, além de possuir mestrado em Ciências da Comunicação: “Com muita luta, diga-se de passagem. Essas dificuldades vão desde ter um lugar no avião, quanto a subir num ônibus. Sem contar os muitos locais que não têm uma rampa e dificultam nossa locomoção. O que tem de mudar é a sociedade. Ela estipula os direitos e deveres de cada um, inclusive dos deficientes físicos, mas se omite na hora de integrá-los socialmente. Ou o faz sem planejamento adequado”.
No vídeo apresentado por ela, podia-se ver de modo bem didático o que o deficiente físico quer e defende. Nele, duas charges, do desenhista Ricardo, cadeirante, deixam evidente o que pretendem. Na primeira, uma pessoa de cadeira de rodas tenta seguir seu caminho e encontra pela frente um “não” gigantesco. Na segunda, outro faz um pedido a um transeunte e, antes mesmo de terminar sua fala, a pessoa lhe dá uma esmola. No quadrinho seguinte, fica claro que ele queria, apenas, uma informação.
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As palestrantes
Teresa Costa D’Amaral é Mestre em Comunicação com a tese Deficiência e Democracia. Participou da criação e foi a primeira coordenadora da CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), órgão federal de planejamento e coordenação das políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência, atual Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Foi uma das autoras do projeto da Lei Federal 7.853/89, que trata dos direitos da pessoa com deficiência, considerada a mais inclusiva das Américas. Vem trabalhando com a proposta de uma abordagem social para a questão das pessoas com deficiência, tendo participação ativa em seu movimento por cidadania.
Há quinze anos, criou e é superintendente do IBDD (Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência), que é referência do setor no país e parceira de organizações mundiais como Ashoka, pioneira no apoio aos empreendedores sociais, e Avina, dedicada ao desenvolvimento sustentável da América Latina.
Ana Maria (Lia) Morales Crespo é jornalista, com mestrado em Ciências da Comunicação (“Informação e deformação, a imagem das pessoas com deficiência na mídia impressa”, ECA/USP). Doutorado em História Social (“Da invisibilidade à construção da própria cidadania. Os obstáculos, as estratégias e as conquistas do movimento social das pessoas com deficiência no Brasil, através das histórias de vida de seus líderes”, FFLCH/USP). Ativista do movimento social das pessoas com deficiência, desde 1980, também é autora do livro infantil “Júlia e seus amigos” (Nova Alexandria, 2005), que trata de deficiência e a importância da amizade para a construção de uma sociedade para todos.
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16/8/2013
15/08/2013 - Atualizada em 14/08/2013