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O desaparecimento da crítica

 

Infelizmente, com alguma exceção, nem sempre honrosa, porque feita por pessoas mal preparadas, para não dizer, entusiasticamente desinformadas do que veio antes, há um desaparecimento gradual e irrestrito da crítica literária cotidiana nos grandes jornais do Rio e São Paulo. 

O que se vê, em regra, é o jogo das panelinhas, entre pequenos grupos, em geral jovens, que se elogiam mutuamente e tomam o espaço da verdadeira criação, escondendo alguns ficcionistas extraordinários, como um Vicente Cecim no Pará e um Jamil Snegel no Paraná. 

Ou Hilda Hilst, já falecida, que publicou num volume suas entrevistas ("Fico besta quando me entendem"), onde assevera: "A ausência de uma crítica séria é uma realidade. Não sei o que há, mas há principalmente o elogio fácil. Seria ótimo que os críticos falassem a verdade". 

E curiosamente longo espaço é dado à literatura europeia já cansada. Em consequência disso, aqui, livros importantes passam desapercebidos. E que não se cuide de esperar muito das universidades. Em regra fechadas em si mesmas, com uma crítica pontual, mais sobre os antigos, do que dos contemporâneos, salvo quando surge possibilidade de brilhar, professoralmente, sobre o texto comentado. E os escolhidos são dois ou três, os mesmos. 

Daí o panorama literário do País ser desalentador. Passando-se a confiar em outro tempo, já que este cegou. Porque ninguém sufocará os talentos e os que o fizerem, mais glória lhes acrescentarão. 

Essa frase é de Tito Lívio, o historiador romano, provando que a 
A poesia faz a língua caminhar. Não são as gerações que marcam a duração 
controvérsia é velha e vinculada, de um jeito e outro, à penúria intelectual ou à inveja. E há alguns que assinalam estar a nova crítica com os historiadores. Com rigor de linguagem, pois sem ele não há grande poesia. E o que vale no texto é a agudeza do olhar. 

Recordo que, no colégio, um colega me chamava de "esforçado", buscando me obnubilar. Hoje vejo que ele tinha razão. Porque o fundamental é espreitar a espontaneidade, segurá-la e trabalhar a máquina da escrita. O que me vem e redijo à mão na página branca, depois irá passar pelo crivo e pelo senso de realidade. 

O computador me é útil para a passagem final do texto. E nada mais. A poesia faz a língua caminhar. Não são as gerações que marcam a duração. Disse alguém que as gerações são os portos, onde os autores são navios e ali ancoram. 

Mas o futuro não conta as gerações, conta os que permanecem. Como nenhum gênero é pequeno, os criadores é que o fazem grande ou pequeno. Contam que Gabriela Mistral, morando enturmada nos Estados Unidos, mostrou desejo de retornar à sua terra, o Chile. Quiseram instá-la a ficar: "Temos um bom grupo, aqui!" E a sua resposta foi: "Vou, meu filho, porque 'se me va la lengua'". 

A Tribuna (ES), 13/11/2016