Daniela Birman
O GLOBO (11.09.2004)
Autor dos clássicos “Os bestializados” e “A formação das almas”, José Murilo de Carvalho tomou posse ontem na cadeira de número cinco da Academia Brasileira de Letras (ABL). Com o ingresso deste professor titular da UFRJ, a Casa de Machado de Assis voltou a ter entre os seus integrantes um profissional dedicado inteiramente à História. Eleito em março deste ano, José Murilo é o sucessor da escritora Rachel de Queiroz, falecida em novembro do ano passado. Em sua cerimônia de posse, o 34 mineiro a entrar para a ABL foi saudado com um discurso do acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco, seu conterrâneo.
Além de incluir entre os seus membros o historiador, a ABL também volta a ter as suas 40 cadeiras ocupadas e empossadas. A ocupação das 40 vagas ocorreu em junho deste ano, com a eleição de Antonio Carlos Secchin. E com a cerimônia de ontem, não falta mais nenhum acadêmico a ser empossado.
Homenagem à autora que fez história na ABL
José Murilo de Carvalho, que também é cientista político, afirmou que a entrada na ABL representa ser admitido numa instituição centenária, na companhia de alguns dos melhores escritores e intérpretes do Brasil.
- Na qualidade de historiador e de cientista social, sinto-me alçado aos ombros de gigantes desses dois campos de conhecimento - disse ele.
Projeto de publicação de panfletos da Independência
O professor titular de História do Brasil da UFRJ está envolvido num projeto de levantamento e publicação dos panfletos da Independência, junto com dois colegas e em colaboração com a Biblioteca Nacional e o Senado. Na ABL, ele pretende ajudar a incrementar o diálogo entre as três academias das quais faz parte: a Brasileira de Ciências, a universitária e a Casa de Machado de Assis.
- Entendo que tal diálogo poderá ser benéfico para a vida cultural do país. Imagino que Nabuco o aplaudiria; a Machado talvez não parecesse ocioso - disse, ao finalizar o seu discurso de posse.
O historiador lembrou em seu discurso o patrono (Bernardo Guimarães), o fundador (Raimundo Correia) e os outros ocupantes da cadeira cinco. Boa parte do discurso foi dedicada à vida e à obra de sua antecessora, Rachel de Queiroz. José Murilo de Carvalho lembrou que, em sua eleição para a ABL, nos anos 70, a autora de “O quinze” fez história ao virar a primeira mulher a integrar a ABL.
- A eleição fez jus ao mérito literário da obra, a uma vida de afirmação feminina, e à forte presença de personagens femininas em seus romances - afirmou o novo imortal.
06/06/2006 - Atualizada em 05/06/2006