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ABL na mídia - CBN - Manuscrito original do Hino Nacional, primeiras edições de Camões, Machado, Euclides e João do Rio: conheça o acervo raro da ABL

 

Uma mesa farta de livros raros e primeiras edições, de Camões a Machado de Assis, de João do Rio a Euclides da Cunha. Assim, a reportagem da CBN foi recebida na Academia Brasileira de Letras no terceiro episódio da série Raridades Literárias. Prato cheio para quem tem apetite pela boa literatura. Sobre a madeira maciça, repousavam dezenas de exemplares armazenados com extremo cuidado pela ABL. Um verdadeiro “Santo Graal” da cultura brasileira.

Entre as paredes da Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça, tudo que circula o grande salão salta aos olhos. São 250 metros quadrados de encanto e literatura pulsante. Até os móveis contam alguma história. A escrivaninha de Olavo Bilac, onde escreveu tesouros da nossa literatura.

Outro móvel pertenceu a Euclides da Cunha, guardando tinteiros e penas usados para compor 'Os Sertões'. Estantes circulares, que rondam todo o espaço, foram doadas ainda em vida por Manuel Bandeira.

Aliás, o setor de obras raras é formado majoritariamente por doações ao longo da história da instituição, reunindo edições preciosas que ajudam a contar a trajetória cultural do Brasil e de Portugal. Nas coleções, itens acadêmicos, camonianos, periódicos e obras raras dos séculos 16 a 18, além de coleções particulares de Alberto de Oliveira, Afrânio Peixoto, Domício da Gama, Machado de Assis, Manuel Bandeira e Olavo Bilac. O espaço de obras raras tem acesso controlado, atende acadêmicos e pesquisadores com um acervo bibliográfico de aproximadamente 20 mil volumes. Outra biblioteca, a Rodolfo Garcia, tem acesso amplo e também oferece material literário vasto.

Quem nos recebe de forma gentil é o acadêmico e coordenador da biblioteca Arno Wehling. Arno fala com encantamento e profundo conhecimento sobre as obras literárias que estão sobre a mesa. Prosa prazerosa de ouvir. Os Lusíadas, de Luís de Camões, é considerada um dos pontos altos da cultura renascentista e peça fundamental da tradição literária do Ocidente, relata. A coleção inclui também obras de viajantes do século 19, como Debret, Rugendas e o príncipe Adalberto da Prússia, que registraram em textos e imagens aspectos da vida social, política e econômica do Brasil recém-aberto aos estrangeiros após 1808.

"Talvez o livro mais importante da cultura portuguesa, luso-brasileira, que é a primeira edição de Camões, Os Lusíadas, de 1572. Depois, tematicamente, nós temos autores que são viajantes do início do século 19, da primeira metade do século 19. O Debret, o Rugendas e o Príncipe Adalberto da Prússia. Então, são pessoas que estiveram aqui, né? É um estudo também do conjunto da sociedade, da vida social, dos aspectos políticos, econômicos. Nós encaramos como para o estudo da história do Brasil", explica com entusiasmo.

O acervo jurídico também impressiona por títulos como Prática Judicial, de Antônio Vangerv e Cabral, jurista português que atuou no Brasil e documentou mais de 200 diferenças entre a aplicação das leis na colônia e em Portugal. Na prática, o livro comprova que o Brasil, mesmo num desenvolvimento incipiente, já possuía alguma identidade jurídica. Arno diz que outro exemplo é Política Indiana, do espanhol Juan de Solórzano Pereira, compilação de leis que vigoraram na América Espanhola, mas também utilizada como referência no Brasil.

No campo da língua portuguesa, a biblioteca abriga o monumental dicionário do padre Rafael Bluteau, publicado a partir de 1718, considerado o primeiro grande trabalho lexicográfico da língua e base para o primeiro dicionário brasileiro, de Antônio de Moraes e Silva. O livro é, talvez, o alicerce da nossa língua.

A literatura brasileira está representada por preciosidades como 'Memórias Póstumas de Brás Cubas', de Machado de Assis; 'A Alma Encantadora das Ruas', de João do Rio, que inaugurou o uso do fardão na ABL; e a edição príncipe de 'Os Sertões', de Euclides da Cunha, obra que transformou a percepção do país sobre si mesmo ao retratar com realismo o sertão e a Guerra de Canudos.

Para o diretor da biblioteca e acadêmico Arno Wehling, o valor dessas obras transcende o aspecto histórico ou bibliográfico. Na nossa conversa, lembramos que os acervos raros do Brasil começam de tragédias portuguesas: o terremoto de Lisboa de 1755 e a invasão de Napoleão, no início do século 19, que forçou a família real a trazer boa parte do acervo para o país. Nesse contexto, a preservação ganha ainda mais destaque.

"O Camões representa um dos pontos altos da cultura renascentista. O Debret, o Rugendas e o Príncipe Adalberto, eles representam uma maneira de você ver o Brasil [por pessoas de fora do Brasil] que naquela época era inédita, porque o Brasil até 1808 ficou fechado. A História é não só a sedimentação do que foi produzido, mas também salva aquilo que poderia ter se perdido. O fato dessa sobrevivência é fundamental exatamente para caracterizar isso que se costuma chamar de legado. Um legado cultural é isso", destaca.

Arquivo da ABL guarda manuscrito original do Hino Nacional Brasileiro

O acervo da ABL vai além da literatura impressa. Nos arquivos climatizados, com controle de temperatura, umidade e sistema de combate a incêndio por gás — pensado para proteger o papel —, estão guardados documentos originais que ajudam a contar a história do país. Quando dizemos que todo esse arquivo é guardado em “cofres literários”, é uma expressão quase literal. Abaixo, a imagem ilustra os acervos, que se parecem muito com alguns tipos de cofre.

Um dos itens mais curiosos é o manuscrito original da letra do Hino Nacional Brasileiro, escrito por Joaquim Osório Duque Estrada. A composição, oficializada em 1922, substituiu a letra provisória que acompanhava a música de Francisco Manuel da Silva desde o período imperial. O texto de Duque Estrada, vencedor de um concurso público, foi adaptado para respeitar a métrica e o ritmo já consagrados da melodia. A versão definitiva estreou nas comemorações do Centenário da Independência e, desde então, é o símbolo musical máximo da nação. Ter o manuscrito em mãos — ou melhor, vê-lo protegido sob vidro — é presenciar um pedaço da história que continua a ecoar nos estádios, nas escolas e nas solenidades oficiais.

Além do hino, a ABL preserva manuscritos de Machado de Assis, fotografias históricas, documentos do Museu Nacional — salvos do incêndio de 2018 graças ao arquivo de Roquette Pinto — e uma diversidade de materiais que atraem desde estudantes de Letras e História até roteiristas de séries, carnavalescos e pesquisadores de clubes de futebol.

Maria Oliveira, chefe do Arquivo na Academia Brasileira de Letras, conta com orgulho sobre os tesouros que preserva. Ela diz que o perfil dos pesquisadores é o mais variado, de acadêmicos a compositores e sambistas.

"Nós temos acervo fotográfico, visual, textual, e como os acadêmicos são de diversas áreas, são atuantes, são escritores que escrevem sobre direito, romances, então, o acervo tem diversos tipos de documentos e serve a vários tipos de pesquisa. Por isso, o perfil do nosso pesquisador também é diversificado. A maioria é de estudantes de história e de letras, mas nós temos pesquisadores que vêm para pesquisas para elaboração de samba-enredo de escola de samba, exposições, publicação de livros, séries para televisão, até mesmo para o Museu do Flamengo", conta.

Há quase três décadas na instituição, Maria Oliveira conhece bem o acervo e diz que os itens retratam a diversidade de estudiosos que passaram pela Academia.

"O arquivo do Roquette Pinto, por exemplo, você tem pesquisadores que buscam história da ciência, antropologia, história do rádio, história do cinema educativo, história da educação. Até mesmo do Museu Nacional, nós temos aqui uma série de documentos do Museu Nacional, que foi muito bom que a gente tivesse preservado essa documentação que veio junto do arquivo Roquette Pinto, porque nós tivemos o incêndio no Museu Nacional. Em um arquivo só você já tem vários temas, e nós temos um grupo de mais de 300 acadêmicos, juristas, diplomatas, escritores, médicos, e, nessa gama de profissões, você tem essa diversidade de temas do nosso acervo", explica.

O Arquivo Múcio Leão é composto por duas linhas de acervo: o Arquivo dos Acadêmicos, com a documentação pessoal dos membros efetivos, patronos e sócios correspondentes, e o Arquivo Institucional, com a documentação administrativa e funcional, produzida, recebida e acumulada em decorrência das atividades-meio e atividades-fim da instituição.

O Arquivo está aberto para consulta de segunda a quinta-feira, das 10h às 17h. As consultas devem ser agendadas previamente por telefone ou pelo e-mail arquivo@academia.org.br.

Matéria na íntegra: https://cbn.globo.com/cultura/noticia/2025/08/14/manuscrito-original-do-hino-nacional-primeiras-edicoes-de-camoes-machado-euclides-e-joao-do-rio-conheca-o-acervo-raro-da-abl.ghtml

https://www.instagram.com/reel/DNVvn5Rt0fo/?igsh=MWxzOG4yOG5ydGlsMA==

14/08/2025