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ABL na mídia - Hoje mais - PALAVRAR: O Brasil é dos brasileiros!

 

“Eu não troco o meu ‘oxente’ pelo ‘ok’ de ninguém”.

A frase acima é do conhecido e renomado escritor, teatrólogo é intelectual brasileiro, também imortal da Academia Brasileira de Letras, Ariano Suassuna (1927 – 2014). Dita e repetida muitas vezes em palestras, entrevistas para as mais diferentes mídias do Brasil e do mundo, para além de um posicionamento xenófobo, o que o autor do Auto da Compadecida propõe é a valorização de nossa gente e cultura; razão pela qual fundou, juntamente com outros artistas brasileiros, o Movimento Armorial.

Gonçalves Dias (1823 – 1864), em seu difundido poema Canção do Exílio – com versos presentes no Hino Nacional, enobrece o Brasil do seguinte modo: “Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o sabiá;/ As aves, que aqui gorjeiam,/ Não gorjeiam como lá./ Nosso céu tem mais estrelas,/ Nossas várzeas têm mais flores,/ Nossos bosques têm mais vida,/ Nossa vida mais amores./ Em cismar – sozinho – à noite/ Mais prazer encontro eu lá;/ Minha terra tem palmeiras;/ Onde canta o sabiá.”

Monteiro Lobato (1882 – 1948), em uma de suas correspondências a Godofredo Rangel (1884 – 1956), certa vez afirmou: “Nada de imitar seja lá o que for (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.” Todos nós sabemos o quanto esse taubateano acreditou e investiu no Brasil, com todos os ônus e bônus obtidos ao longo da vida dele.

Ary Barroso (1903 – 1964) declarou-se para o Brasil e Gal Costa (1945 – 2022) imortalizou seus versos em Aquarela do Brasil cantando: “Brasil/ Meu Brasil brasileiro/ Meu mulato inzoneiro/ Vou cantar-te nos meus versos// O Brasil, samba que dá/ Bamboleio que faz gingar/ O Brasil do meu amor/ Terra de Nosso Senhor”.

Mas esse sentimento de Brasil e de brasilidade é algo em disputa há muito tempo, já que também, há muito tempo, estamos buscando perceber-nos únicos, singulares enquanto nação. Estudos mais recentes acerca de descolonização, decolonialidade e colonialismo nos ajudam a compreender um pouco desse percurso de opressão, autoconhecimento e (re)valorização daquilo que somos ou buscamos ser enquanto brasileiros/ras e latinos/nas.

Na perspectiva das artes, talvez, o movimento mais conhecido no país inteiro, com alguma repercussão no exterior, visto alguns de seus idealizadores/participantes terem tido acesso ao circuito artístico da época, tenha sido a Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, em fevereiro de 1922.

Ressalvadas as contradições e pensamentos divergentes a respeito das personagens que a integraram, do momento e locus em que ocorreu, fato é que Mário de Andrade (1893 – 1955), Oswald de Andrade (1890 – 1954), Tarsila do Amaral (1886 – 1973), Anita Malfatti (1889 – 1964), Guiomar Novaes (1894 – 1979), Menotti Del Picchia (1892 – 1988), Manuel Bandeira (1886 – 1968), Emiliano Di Cavalcanti (1897 – 1976), Victor Brecheret (1894 – 1955) e outros trouxeram essa discussão para pauta do dia e a aprofundaram em exaustão, com manifestos, publicações de livros, pesquisas acadêmicas, mostras e exposições, artigos em jornais e em revistas etc., contribuindo muitíssimo, até os dias de hoje, no que se refere à nossa valorização enquanto Brasil e brasileiros/ras em seus mais diversos vieses.

A obra que mais chama a atenção para este período é, sem sombra de dúvida, a pintura Abaporu, de 1928, produzida por Tarsila do Amaral para presentear seu marido, à época, Oswald de Andrade. Hoje, encontra-se em solo argentino, no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires – MALBA. Assim como a obra mais conhecida e copiada no mundo todo (Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci (1452 – 1519)), a reprodução de Abaporu pode ser vista desde cartões postais, chaveiros e camisetas em sua forma natural até releituras várias, com destaque para seu “pezão”. Uma releitura desta obra que está viralizando nas redes sociais da Internet atualmente está com uma tornozeleira eletrônica. (Por que será?!).

Em tempos de disputas entre apoiar o Brasil ou qualquer outro país, assumir-se brasileiro/ra e não insistir na “síndrome de vira-lata”, aderir ou não às cores da bandeira nacional, torcer e lutar pelo Brasil ou profaná-lo lá fora, ficar ou fugir do país, entre outros dilemas, vale a pena revisar a história e retomar alguns exemplos de brasileiros e brasileiras que engrandeceram e engrandecem o Brasil com seu trabalho e, em alguns casos, deram a vida por ele. Mais que dizer-se “patriota” é importante “ser patriota”.

Antonio Luceni é doutorando em Artes pela UNESP, câmpus São Paulo. Professor, jornalista e escritor, membro da Academia Araçatubense de Letras

Matéria na íntegra: https://www.hojemais.com.br/aracatuba/noticia/opiniao/palavrar-o-brasil-e-dos-brasileiros

04/08/2025