Marcos D´Pádua/AE
Quase da idade da Academia Brasileira de Letras (ABL) — que tem 110 anos contra os quase 100 anos do arquiteto brasileiro —, sem fardão, mas com muita vitalidade e disposição, Oscar Niemeyer foi homenageado ontem na Casa de Machado de Assis, no Rio de Janeiro. Dos 40 integrantes da ABL, 20 compareceram à cerimônia, que teve o mérito de arrancar o arquiteto de casa. Oscar Niemeyer, que vai diariamente ao seu apartamento-escritório na Avenida Atlântica, em Copacabana, dificilmente comparece a atos públicos.
A homenagem a Niemeyer por pouco não ocorre sem ele. Avesso a eventos públicos, especialmente festas, homenagens e congressos, tinha decidido não ir. “Ali (na Academia) só tem velhos”, disse a um amigo, sem perder o humor. Mas a insistência de acadêmicos e de amigos dobrou o arquiteto, que mal conseguiu almoçar tamanho o incômodo que o compromisso lhe causava. Niemeyer chegou às 17h40 na ABL, de cadeira de rodas.
Emocionado com a visita ilustre, a segunda do arquiteto na história da academia (a primeira foi na posse do amigo, o antropólogo e educador Darcy Ribeiro, que morreu há 10 anos), o presidente da ABL, Marcos Villaça, rasgou elogios ao homem que criou as “curvas harmoniosas” de Brasília. E brincou com a obsessão com que o homem de caráter retilíneo foi sempre seduzido pelos côncavos e convexos. “Aqui entre nós: não há quem saiba realizar e admirar mais as curvas do que você. E sabemos a que curvas estou me referindo”, provocou Villaça, que não resistiu e completou: “Sobretudo, respeitosamente, as curvas das mulheres brasileiras”.
“Oscar Niemeyer é o arquiteto do Brasil que deu certo”, discursou o governador José Roberto Arruda, lembrando a geração de ouro formada por Lucio Costa, Burle Marx, Athos Bulcão e Israel Pinheiro, que acreditaram na “loucura” do presidente Juscelino Kubitschek. “De certa forma, ele também é um grande escritor, pois escreveu em curvas, desenhando. Suas obras são textos esculturais”, comparou Arruda. Ao terminar o encontro, Niemeyer foi cercado por abraços, beijos e carinhos — especialmente das mulheres presentes. Ao final, apareceu a atriz Tônia Carrero para roubar-lhe um beijo. “A vida é muito curta. Não dá tempo de fazer tudo”, comentou. (RM)
Correio Braziliense (DF) 9/3/2007
09/03/2007 - Atualizada em 08/03/2007