A Bienal do Livro gira em torno da unificação da língua portuguesa e consagra alguns autores como ídolos pop
Schneider Carpeggiani
No ano em que comemora os seus 110 anos de fundação, a Academia Brasileira de Letras (ABL) tem como principal luta a implantação do acordo ortográfico entre países lusófonos. A discussão em tomo dessa reforma começou em 1986, com uma comissão formada pelo brasileiro Antônio Houaiss, representantes de Portugal e de países africanos de língua portuguesa. No entanto, parece que vai levar ainda um bom tempo para que as divergências entre os falantes do português desapareçam.
"Portugal quer um prazo de 10 anos para que a reforma ortográfica seja colocada em prática. Isso é um absurdo", explicou Marcos Vinicios Vilaça, presidente da Academia-Brasileira de Letras. A instituição foi homenageada, sexta, primeiro dia da 6ª edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco com um discurso de saudação feito pelo poeta Marcus AccioIy.
Segundo Vilaça, o problema de Portugal com a reforma é econômico: "terá de ser feita uma reformulação editorial para aplicar as mudanças, e isso custa dinheiro. Mas é impensável que, nos dias de hoje, cada país fale um português diferente. O inglês que a Inglaterra fala e escreve é o mesmo dos Estados Unidos e de países que sofreram colonização inglesa". A reforma, na verdade, abarca uma parcela muito pequena da nossa gramática: em Portugal, a mudança será de 2%, no Brasil ela não chega nem à metade disso. "Essa diferença do português em vigor complica muito a nossa vida. Por exemplo, como ministro do Tribunal de Contas da União, tive a experiência de fazer um contrato dos tribunais de contas, entre o Brasil e outro país africano de língua portuguesa, que precisou ser escrito em duas versões, obedecendo as características do português de cada país", lembrou Vilaça. Em relação à homenagem que a ABL recebeu pelos seus 110 anos, Vilaça ressaltou: "A Academia Brasileira de Letras não vive de homenagens, ela está aqui para homenagear, homenagear também os membros que dela fizeram parte, e é disso que é feita a imortalidade".
Não foi só da Academia Brasileira de Letras que foi feita a primeira noite da Bienal do Livro - apesar de esse ter sido o dia de estréia do evento, as palestras estavam cheias ou bem perto disso. O escritor Santiago Nazarian foi entrevistado pelo poeta Delmo Montenegro no Auditório Clarice Lispector e fez questão de brincar com a mítica sexual que cerca sua persona pública: "depois da palestra, eu estarei ‘atendendo' ao público no box do banheiro masculino". Além do 'convite', Nazarian afirmou que a geração de escritores surgida nessa década (da qual faz parte) tem muito mais nomes de talentos do que a chamada "Geração 90" – termo cunhado pelo escritor Nelson de Oliveira numa antologia homônima.
Uma dos melhores sacadas dessa bienal é o Café Literário. Se na edição anterior ele era só mais um auditório, o espaço agora leva ao pé da letra seu nome transformando-se num café que recebe debates e oficinas gastronômicas. Quem abriu a programação de palestras, foi a jornalista Renata do Amaral, falando de comida da alma - aquela que alimenta não só o corpo, mas o espírito.
Fãs de Ariano em fila para tietá-lo
Marcos Toledo
Este primeiro fim de semana da 6ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções (Olinda), comprovou que as alterações na programação este ano, com o acréscimo de novos locais de discussão, foram positivas e que o acontecimento é o mais recente candidato a megaevento do Estado. Um dos principais responsáveis por esse sucesso foi o escritor Ariano Suassuna, que atraiu anteontem uma platéia que extrapolou os limites do espaço a ele dedicado.
O sábado teve como destaque um tributo a dois dos homenageados da edição deste ano: Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna. Este atraiu desde cedo uma legião de fãs que foram ocupando do Auditório Clarice Lispector (150 lugares) desde as palestras anteriores e formando uma grande fila do lado de fora. Resultado: foi preciso remontar toda a estrutura do lado de fora para o público conferir o Recital para Ariano – com Bia, Antonio Marinho, Greg e Miguel, do grupo Grupo em Canto e Poesia – e a aula-espetáculo do professor. Ainda no segundo dia, já foi considerado pela organização um marco e o principal evento da 6ª Bienal.
O outro escritor reverenciado foi lembrado com a palestra Homenagem aos 90 anos de Hermilo Borba Filho, ministrada pelos jornalistas Luís Reis e Cristiano Ramos, sob a coordenação de Leda Alves. Também dramaturgo, Luís salientou a importância de se aprofundar na obra teatral de Hermilo, grande pesquisador da área e autor de um teatro erudito, mas contemporâneo, e inspirado nas manifestações populares. Já Cristiano destacou o caráter autobiográfico do trabalho de Hermilo e lembrou sua fase de romancista.
A Bienal também tem se mostrado um programa ideal para toda a família, geralmente com o pais tentando conciliar seus interesses com os dos filhos. Foi o caso do militar Robinson Sobreira, 48 anos, que foi ao evento com os dois filhos, Lara, 7, e Igor, 6. “Hoje é o dia deles”, disse o pai, enquanto os pequenos conferiam o acervo da biblioteca volante do projeto BiblioSesc. “Vou me aposentar e me enveredar na imagem e no som. Vou procurar um livro nessa área”, disse Sobreira, que pretendia voltar com a esposa esta semana com o objetivo de comprar um livro para ela. “Também tem aquela questão de encontrar livro mais barato”, explicou.
Jornal do Commercio (PE) 8/10/2007
16/10/2007 - Atualizada em 16/10/2007