Elio Gaspari
Sai em agosto o novo romance de José Sarney. Revela o remédio que o ex-presidente toma para fugir da pauta horizontal do Senado. "O quadro" não tem política. Conta a história da paixão de um homem pela mulher nua de uma tela. É Gabrielle d"Estreés, namorada de Henrique IV (1553-1610), rei da França.
O quadro iluminou a infância do filho de um engenheiro carioca que financiava o Partido Comunista nos anos 30. Pintado no século XVI, o retrato de Gabrielle saíra dos tesouros dos museus soviéticos, na época em que os comunistas vendiam madonas de Rafael para fazer caixa. No romance, Sarney mistura a obsessão de Leonardo, já adulto, com uma partilha de bens e as encrencas de um cidadão de poucas luzes e muita vontade de ficar com o quadro. Ele descobriu que no Louvre havia outro retrato de Gabrielle, pintado na mesma época.
Sarney trabalhou vários anos na trama, e ela já estava pronta quando o Senado desceu aos infernos. Algum poder sobrenatural fez com que ele incluísse um episódio de investigação de paternidade na vida do enamorado de Gabrielle d’Estreés. É preferível ler "O quadro" a acompanhar a vida real.
O Globo (RJ) 1/7/2007
03/07/2007 - Atualizada em 02/07/2007