Lúcio de Mendonça (Lúcio Eugênio de Meneses e Vasconcelos Drummond Furtado de Mendonça), advogado, jornalista, magistrado, contista e poeta, nasceu em Piraí, RJ, em 10 de março de 1854, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 23 de novembro de 1909. Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras. Ao escolher o poeta Fagundes Varela como patrono, coube-lhe a cadeira nº. 11.
Era o sexto filho de Salvador Furtado de Mendonça e de Amália de Meneses Drummond. Órfão de pai aos cinco anos, e sua mãe tendo contraído segundas núpcias, Lúcio foi criado em São Gonçalo de Sapucaí, MG, em casa de parentes. Nunca teve professor de primeiras letras. Aprendeu a ler e escrever ligando os sons e caracteres gráficos através de leituras de jornais. Aos 16 anos matriculou-se no Colégio Pimentel, em São Gonçalo. A chamado de seu irmão Salvador de Mendonça, partiu para São Paulo, ingressando, em 1871, na Faculdade de Direito. A esse tempo, iniciou as suas atividades poéticas e literárias, escrevendo um caderno de versos, Risos e lágrimas, e publicando trabalhos em O Ipiranga, jornal dirigido por Salvador de Mendonça. Lá tomou parte num movimento de protesto dos estudantes contra os professores da Faculdade e foi suspenso por dois anos. Passou esse período no Rio. Entrou para a redação de A República, convivendo com Quintino Bocaiúva, Joaquim Serra, Salvador de Mendonça, Francisco Otaviano, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, e outros. Em 1872, publicou, com prefácio de Machado de Assis, o seu livro de estreia, Névoas matutinas.
Em 1873, estava de novo em São Paulo, novamente matriculado na Faculdade de Direito. Publicou seu segundo livro, Alvoradas, e entrou para a redação do jornal A Província de São Paulo, colaborando também com A República, órgão do Clube Republicano Acadêmico, que ele dirigiu em 1877. Após a colação de grau, em 1878, regressou ao Rio. Foi para São Gonçalo de Sapucaí. Em 1880, casou-se com D. Marieta, filha do solicitador João Batista Pinto. Com a nomeação de delegado da Inspetoria Geral da Instrução Pública da Província de Minas no Distrito de São Gonçalo. Foi eleito vereador da Câmara de São Gonçalo, exercendo a vereança até 1885.
Passou a colaborar no Colombo, de Campanha, cidade vizinha de São Gonçalo, e foi nesse jornal que fez a maior parte de sua pregação republicana. Exerceu a advocacia em São Gonçalo, em Vassouras, onde Raimundo Correia era juiz, e em Campanha. Sempre colaborou em vários jornais da Corte e do interior, sem que a advocacia e o jornalismo o fizessem esquecer a literatura. São desse período muitos dos contos que publicou, os quais, no dizer de vários críticos, formam a melhor parte de sua produção literária.
Em 1885, mudou-se para Valença, onde advogou e colaborou assiduamente na Semana de Valentim Magalhães. Em 1888, transferiu-se para o Rio e entrou para a redação de O País. Com a proclamação da República, foi nomeado secretário do ministro da Justiça, passando, em 10 de janeiro de 1890, a Curador Fiscal das Massas Falidas no Distrito Federal. Depois de exercer outros cargos na magistratura e na alta burocracia, foi, afinal, aos 41 anos, nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, em substituição a Afonso Pena, que não aceitara a nomeação.
Mesmo depois de ministro do Supremo, Lúcio não deixou o jornalismo, e, sob o pseudônimo de Juvenal Gavarni, publicou, na Gazeta de Notícias, uma série de sátiras políticas, em que, com fino humorismo, focalizou as personalidades de Prudente de Morais, José do Patrocínio, Quintino Bocaiúva, Afonso Celso, Medeiros e Albuquerque, e outros.
Na terceira fase da Revista Brasileira, dirigida por José Veríssimo, Lúcio passou a ser um dos frequentadores da redação. Ali se congregavam, em torno de Machado de Assis e de Joaquim Nabuco, os principais representantes da literatura brasileira no momento. Foi então que lhe nasceu o sonho de criar a Academia Brasileira de Letras, da qual ele é, por depoimento unânime dos criadores da Instituição, o verdadeiro fundador, o “Pai da Academia”.
Fez parte das primeiras comissões da Instituição: nomeado com Olavo Bilac, Visconde de Taunay, Rodrigo Otávio e Pedro Rabelo para organizar o Regimento Interno (1897); nomeado com o Visconde de Taunay, Filinto de Almeida e Pedro Rabelo para organizar o projeto sobre o distintivo acadêmico (1897); integrante da comissão de Bibliografia (1897) e da comissão especial para estudar as propostas de sócios correspondentes, juntamente com Graça Aranha e Valentim Magalhães (1898).
No Supremo Tribunal Federal teve atuação destacada defendendo com vigor os seus pontos de vista. Em 1901, foi nomeado Procurador Geral da República. Em 1904, foi-lhe concedida licença para tratar da saúde. Ia perdendo a vista, doença que também atingiu a seu irmão Salvador de Mendonça. Em 26 de outubro de 1907, aposentou-se, a esforços de seus amigos, pois não lhe era mais possível trabalhar. Viajou para a Europa, indo à Itália e à Alemanha, a fim de obter cura para sua enfermidade. Passou o ano de 1909 na sua chácara da Gávea, ao lado de Salvador de Mendonça, vindo a falecer em 23 de novembro.
Recebeu o acadêmico Domício da Gama.