Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos

Artigos

  • Cadeiras que dançam

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/04/2005

    Ouvi dizer que houve aquilo que os colunistas especializados chamam de "dança das cadeiras" na equipe econômica. Na realidade, não são as cadeiras que dançam, mas os seus ocupantes. Uma equipe curiosa, com gente que quer sair e gente que quer entrar. Tudo bem.

  • Jornalismo e literatura

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 29/04/2005

    É necessário apelar para Aristóteles: a definição se faz pelo gênero próximo e pela diferença última. Exemplo: o homem é um animal racional. O gênero próximo é o animal; a diferença última é o racional. Aplicando a mesma definição ao jornalismo e à literatura, teríamos de encontrar a diferença última entre as duas expressões da comunicação humana.

  • Ondas e mulheres

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/04/2005

    Manhã dessas de domingo, decidi tomar um pouco de sol e evitei Ipanema, onde costumo encontrar conhecidos que de certa forma me atrapalham. Aproveito o sol, mas aproveito principalmente a solidão em que mergulho, lembrando coisas e esquecendo outras, remetendo-as para o lixo da memória. E há sempre o importuno que pergunta alguma coisa que eu tenho preguiça de responder ou o desinformado que me saúda pensando que ainda sou o Fernando Sabino.Como disse, fui para Copacabana e sentei no banco onde colocaram a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade. Só que eu fiquei virado para o mar, e ele, pernas cruzadas e livro no colo, ficava de costas para a praia. Estou quieto, olhando as ondas e admirando as mulheres quando um casal de jovens se aproxima e fica olhando a estátua do poeta. Olham, olham, procuram decifrar quem é aquele homem imobilizado no bronze.

  • Transparência

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/04/2005

    Moda é moda desde que o mundo roda. No momento, os clichês mais batidos na mídia, na política, na sociedade em geral, podem ser resumidos a três: ética, credibilidade e transparência. Quem possui os três é uma vestal, um varão de Plutarco, uma reserva moral da nação, sendo que alguns, devido à idade, chegam ao ponto de serem conservas, compotas viscosas como as de pêssego ou de mamão.

  • O que sobra para os jornais

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/04/2005

    O ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Beraba, acentuou, há pouco, o distanciamento entre a mídia impressa e as outras mídias. O exemplo que deu, e que outros mestres da comunicação estão dando, é a velocidade da notícia que o mercado exige cada vez mais instantânea. Tomando como exemplo mais recente a morte do papa, os jornais só a noticiaram no dia seguinte, na base de "O papa morreu", com a variante "Morre João Paulo 2º".Desde a véspera, sites da internet e emissoras de rádio e de TV haviam dado a notícia, com os desdobramentos imediatos e as primeiras especulações.

  • A hora do perdão

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 25/04/2005

    Embora com atraso, sempre é hora de comentar o perdão que todos devemos a todos. Seguindo o exemplo de João Paulo 2º, que pediu desculpa a todos os que, em séculos passados, foram condenados pelo fanatismo da religião, Lula aproveitou recente estada em terras de África e pediu perdão pelos crimes que o Brasil cometeu contra os negros aqui escravizados. Ameaçou ir às lágrimas, que, segundo o lugar-comum, "escorrem pelas faces".Louve-se este tipo de reparação tardia. É um reconhecimento de erros e de crimes que não devem ser repetidos - que todos peçam perdão a todos: de alguma forma, cometemos erros e faltas contra o próximo.

  • A vinha do senhor

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 24/04/2005

    Como quase todo mundo, não me entusiasmei com a eleição do novo papa. É bem verdade que nada tenho com ou contra isso. Acompanhei o caso com interesse, digamos, profissional. Mas gostei especialmente daquela alusão que Bento 16 fez logo no início de sua primeira mensagem ao mundo que o ouvia.

  • Tancredo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/04/2005

    Os 20 anos da morte de Tancredo Neves reabriram os acontecimentos que impediram sua posse na Presidência da República. Sempre que acontecem casos de grande dramaticidade, surgem teorias conspiratórias. Na Itália, um jornal chegou a denunciar "la Mafia bianca", a máfia dos aventais brancos. Acompanhei os lances de sua eleição. No dia 12 de março, Mauro Salles telefonou-me avisando que ele queria jantar no dia seguinte com alguns amigos jornalistas, para ser exato, apenas quatro. Eu não poderia ir, porque estava preparando o primeiro número da revista "Fatos", cuja capa seria o novo presidente do Brasil.

  • Pio 9º e João Paulo 2º, o drama de dois papas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/04/2005

    Escrevo esta crônica antecipadamente. Quando sair publicada, talvez já se conheça o nome do novo papa -assunto obrigatório dos últimos e próximos dias. Lendo a diversidade de matérias na mídia, a nacional e a internacional, pesquei um detalhe sem importância. Apesar de agnóstico, sempre conservei pela igreja a gratidão pelo que me ensinou e o respeito que ainda me causa.

  • A igreja e o mundo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 21/04/2005

    Não houve surpresa, mas não houve alegria, com a eleição de Joseph Ratzinger para substituir João Paulo 2º. Falando em termos profanos, meramente políticos, ao cardeal alemão foram creditadas todas as restrições que marcaram o pontificado mais carismático da história.Na realidade, Ratzinger já era mais do que uma eminência parda de Wojtyla, mas um vice-papa, cuja influência cresceu sobretudo nos últimos anos de João Paulo 2º. Nesse particular, sua eleição poderia lembrar a de Eugenio Pacelli, em 1939, para suceder a Pio 11. Desde a rapidez com que os dois foram eleitos como no escancarado favoritismo entre os cardeais daquele tempo.

  • o novo Satã

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/04/2005

    Curioso: a mídia é compactamente progressista. O demônio de plantão é o conservador Joseph Ratzinger. Impressionante como o estão satanizando, tornando-o a besta negra do atual conclave e, até certo ponto, substituindo Bush no pódio do homem atualmente mais odiado pela mídia nacional e internacional.

  • A chaminé

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/04/2005

    Somente uma instituição com dois mil anos de história poderia esnobar a tecnologia, que, em nossos tempos, tornou-se o deus ótimo e máximo, atributos que os romanos dedicavam a Júpiter, deus dos deuses. Numa época em que a comunicação chegou a um estágio que jamais poderia ser imaginado pela humanidade, pelo menos até a segunda metade do século passado, a igreja recorre a um dos processos mais primitivos para comunicar o fato mais importante de sua caminhada através dos tempos: a eleição de um novo chefe.

  • Incidente na selva

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/04/2005

    Um jogador argentino xingou adversário brasileiro. Quem já foi à Argentina sabe que os brasileiros, brancos ou negros, são ali chamados de "macaquitos", tanto nas conversas íntimas como no anedotário local. Na "brincadeira", segundo dizem. Retribuímos a "brincadeira" chamando os argentinos com o nome de outro animal.

  • Mídia frustrada

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/04/2005

    Não deixa de ser curiosa a tendência dos profissionais da mídia, a nacional e a internacional, em relatar os preparativos do conclave que elegerá o novo papa. Tratam a questão como se fosse uma convenção de partidos políticos, a aprovação pelo Congresso de uma MP, a queda ou a nomeação de um ministro. Reclamam da inexistência daquilo a que estão mais habituados: as "fontes", que dão o serviço para os profissionais que se mostraram úteis no passado.

  • O papagaio soropositivo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/04/2005

    Alguns leitores reclamaram do cronista que, não faz muito tempo, contou uma anedota politicamente incorreta -classificação que o próprio cronista fez questão de invocar. Foi também censurado com veemência pelo uso do nobre espaço que ocupa (indevidamente, é claro) para contar uma piada de mau gosto.